15 de out. de 2013

    Olhos frios, olhos cinzentos, cruelmente frios e lençóis de seda. Eram essas as lembranças que Danielle guardava de seu grande amor.
    E como continuavam vivas!
    _ Danielle? Danielle! _ Lewis repetiu com   impaciênc ia tentando fazê-la prestar atenção na conversa.
    _ Perguntei se você concorda com o primeiro encontro amanhã a tarde, sei que está terminado o retrato da Sra. Gilbraith e... _ Terminei hoje _ Ela revelou, interrompendo-o com certa relutância _ Acho que não quero começar outro quadro agora. Penso em tirar férias.
   Lewis ficou tão surpreso com a ideia, que seu rosto de traços perfeitos não conseguiu disfarçar o desapontamento.
   _ Agora não, Danielle!
  Aos trinta anos Lewis Vanghan aparentava exatamente o que era: um homem de negócios bem-sucedido.
  Vestia-se impecavelmente e não gostava do preconceito que se tinha contra arte, além de detestar a ideia de que artista e marchands eram todos uns boêmios.
   Ele certamente, era a exceção que confirmava  a regra.
   _ Sabe quem vai pintar agora? _ Perguntou, como se não acreditasse que ela estava mesmo desprezando um trabalho como aquele.
   _ Claro que sei! Danielle conhecia muito bem o próximo trabalho que deveria fazer e não gostava nem um pouco da ideia.
   _ Audra MacDonald! Você vai pintar Audra!
   _ Já disse que sei Lewis _ Repetiu Danielle, sem demonstrar o mínimo de entusiasmo.
   Ele insistia no assunto, tentando dar-lhe um pouco de ânimo.
  Danielle não podia desistir logo agora _ Sentia-se mal só de pensar no autor da encomenda, mas mantinha-se fria e controlada, como se não tivesse nada a ver com isso.
  Danielle era muito reservada, do tipo que só revela suas emoções para os mais íntimos. E seu circulo de amigos era bem pequeno, não incluía se quer Lewis, o marchand que conhecia há cinco anos e que a promovera no mundo das artes plásticas e nem mesmo Lewis conseguia chegar ao fundo da sua alma. Ele tinha que se contentar com a beleza física de Danielle, com os cabelos loiros e sedosos que lhe caíam nos ombros, os olhos verdes e frios que escondiam mil segredos, o nariz pequeno e reto e dado a sardas nos meses de verão, a boca perfeita, os lábios carnudos sempre realçados com um brilho sabor pêssego. Ela era alta, esguia e costumava usar roupas bastante descontraídas, como batas soltas e jeans. E não se considerava boêmia.
  _ Eu sei quem recomendou o trabalho, Lewis _ Ela respondeu secamente, contente por conseguir controlar as emoções. Havia aprendido bem a lição.
   _ Foi Nicholas Andracas!
  O homem que a havia retirado de uma festa, sete anos antes, para levá-la a viver seus únicos momentos de paixão. Agora o destino o trazia lhe de novo a sua vida, para seu mal o para o seu bem. E, pelo jeito, ele não mudara nada. Ainda era o homem arrogante que um dia ousara lhe oferecer dinheiro por uns instantes de amor.
 

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