Coração Mercenário II
_ O que está se passando ali?_ Peter Brenten questionou, estreitando os olhos para ver melhor.
_ Acho que é uma mulher _ disse Stewart de Byrne.
_ Ora está coberta dos pés à cabeça. O que será que ela quer?
_ Provavelmente, é uma mulher qualquer _ Sir Gerald respondeu, brincando com os dados. _ É das feias, se está inteira coberta.
Hugh contemplava a situação excitado. Ao que pertencia, sua luta da noite estava garantida.
_ Pois eu acho que ela está tentando esconder sua beleza _ comentou, pensativo. _ O dono da estalagem não consegue tirar os olhos de cima dela. E tenho certeza de que ela não está querendo aceitar. _ Soltou uma gargalhada. _ Aquele velho seria a última coisa que eu levaria para a cama, se fosse mulher!
_ Não creio que o velho vá ficar com ela _ Stewart afirmou. _ Veja os fregueses que acabaram de chegar. Três cavaleiros do reino, ao que parece, embora a moça não se mostre mais satisfeita com eles do que estava com o velho.
_ Bem que eu gostaria de ter uma mulher esta noite. _ Peter declarou, examinando a figura esguia coberta pelo manto. _ Veremos se ela é rápida. Talvez eu lhe faça uma visita, depois que ela terminar com aqueles camaradas.
_ Não vi, não, caro amigo Peter-Hugh informou-o, levantando-se e pousando a mão na espada. _ Vai ter que se contentar com as mulheres da taverna. Esta será minha.
O cavaleiro que segurava a moça não se virou quando Hugh deu-lhe um tapinha no ombro. Foi preciso a mão forte em seu braço para fazê-lo virar-se.
_ Com licença _ Hugh falou com cortesia, fazendo uma pequena reverência. _ Algum problema?
O grandalhão examinou Hugh da cabeça aos pés e respondeu em tom rude: _ Nada que eu mesmo não possa resolver.
_ Os outros dois riram. _ Deixemos em paz.
Hugh sorriu.
_ Sir, o senhor entendeu mal. Eu falava com a moça. _ Lançou um olhar inquisitivo para o rosto assustado da mulher à sua frente. _ Senhorita _ começou a falar, mas parou, sem fôlego.
Era mais bonita do que qualquer outra mulher que ele já vira. Desde que conhecera Lillis, jamais encontrara tamanha perfeição. sem pensar, Hugh estendeu o braço para puxar o capuz, libertando os cabelos loiros da moça e afastando as sombras que escondiam-lhe os olhos... olhos azuis como o céu, que o fitavam atônitos.
_ Por favor, Sir _ ela murmurou. _ Eu lhe imploro, ajude-me.
Depois daquelas poucas palavras pronunciadas pelos lábios delicados, o que iniciaria como um jogo para Hugh tornou-se um assunto terrivelmente sério.
_ Nossa, ela é muito mais bonita do que pensamos, Cyril _ disse um dos cavaleiros. _ Minha vez será logo depois da sua.
Os olhos da moça faiscaram.
_ Eu não sou... _ parecia não saber como terminar a frase. _ Não sou uma... uma... _ lutando contra o cavaleiro que a segurava, implorou a Hugh mais uma vez: _ Por favor, Sir. Eu lhe imploro.
_ Já disse para dar o fora, homem _ Cyril advertiu-o, Hugh examinou as feições da garota e tentou entender o que a perturbava naquela situação. Algo estava errado. Ela era bonita demais para ser uma qualquer. estava pálida, como se sentisse prestes a desmaiar.
_ Ela não o quer, Cyril _ Hugh falou devagar, _ é uma senhorita deve sempre ter a chance de fazer sua escolha. _ Dirigiu à moça o mais charmoso dos sorrisos. _ O que diz, senhorita? Prefere ficar com ele, ou comigo? juro que sou limpo e prometo ser gentil.
_ Suma daqui _ Cyril rugiu, furioso.
_ Com você! _ Ela gritou.
_ Ouviu a resposta, Cyril, dos lábios da própria moça.
Agora, solte-a e siga seu caminho, como o bom e honrado cavaleiro que é. Ou, então, arque com as consequências _ Cyril estreitou os olhos.
_ Você vai morrer, homem!
Rindo Hugh desembainhou a espada, num movimento fluido e gracioso.
_ Um dia, é claro _ admitiu _, mas não hoje.
Cyril libertou a garota e Hugh puxou-a para si, ouvindo o seu gemido de dor e sentindo-lhe o corpo.
_ Você está louco? É um contra três de nós! Esta querendo morrer?
O som dos companheiros de Cyril desembainhando suas espadas fez com que a taverna mergulhasse no silêncio.
_ Oh, por favor, senhores _ pediu o taverneiro, em vão, _ não... não...
_ O dia em que eu desejar morrer, Sir, será o dia em que o sol parar de brilhar _ Hugh declarou com ousadia e confiança, espada pesada dançando no ar, como se fosse uma pluma. _ Especialmente nas mãos de um tipo como você, pois, verdade seja dita, prefiro ser devorado vivo pelos porcos. _ Curvou os lábios num sorriso simpático.
Cyril, rilhando os dentes de ódio, avançou lentamente para Hugh.
_ Nesse caso, não esquecerei de atirar seu corpo no lamaçal lá fora, quando tiver acabado com você _ prometeu. _ Agora, largue a garota, a menos que pretenda usá-la como escudo.
O coração de Hugh batia acelerado demais para que ele se importasse com o insulto. Mais um instante e o prazer da luta o invadia, como uma droga reconfortante, e ele se deixaria consumir. Mas, antes, tinha de garantir a segurança da garota. Não tinha certeza de que ela estava consciente, pois parecia inerte em seu abraço firme. Porém, não se preocuparia com isso naquele momento. Mais tarde, não teria nada em mente além da atenção dela, que garantia ser depositada toda nele. Naquele instante, queria apenas sentir o doce alívio que a luta iminente traria.
_ Segure-a, Peter _ falou, ofegante de excitação. _ Segure-a e mantenha-a a salvo. Quando eu tiver terminado com o bom cavaleiro Cyril e seus bons amigos, virei buscá-la. E só Deus sabe como vou precisar que ela esteja sã e salva. _ Erguendo a espada, sorriu e murmurou:
_ Agora, senhores, vamos ver quem vai acabar no lamaçal.