Um amor verdadeiro resiste a todas as tormentas...
Maguire's Ford, primavera, 1.630 Lady Fortune ajeitou o xale de lã sobre os ombros e olhou com atenção para as colinas verdes da Irlanda, agora visíveis.
O vento de maio ainda era cortante e agitava o capuz que protegia sua cabeça. Apoiada contra a balaustra do navio, via a neblina do início da manhã começar a se desfazer, revelando um trecho de céu azul-claro. Imaginava como seria realmente a Irlanda e se finalmente encontraria o amor ali. Haveria amor para ela, afinal?
Os dedos protegidos por luvas agarraram o metal frio da grade.
Em que estava pensando? Amor? Esse tipo de coisa era para sua mãe e para sua irmã, Índia. Fortune era a prática da família.
A história de sua mãe era fascinante e assustadora. Dois maridos assassinados, um deles tendo sido seu próprio pai. Seu meio-irmão, Charlie, era um bastardo real, porque sua mãe havia sido amante do falecido príncipe Henry Stuart, mas eles nunca se casaram, porque sua mãe era considerada uma bastarda pela realeza inglesa.
Na Índia, porém, sua mãe era uma princesa real_ obra de sua avó, que havia sido raptada, posta em um harém e engravidado do Imperador antes de ser resgatada pela família e devolvida ao marido escocês.
E sua irmã, Índia, que tentara fugir com um jovem, embarcou sofrendo um violento ataque de piratas berberes. Seu padrasto ficou furioso e a enviou para uma propriedade da família no alto das montanhas, um local recluso onde ela teve seu filho.
Fortune seguiu com Índia para manter a companhia da irmã.
A criança foi arrancada dos braços de Índia segundos depois do parto, e a moça foi casada com um Lorde Inglês. Amor?
Deus a protegesse! Não queria sua vida dominada por algo tão dramático! O amor não era prático. O que uma mulher queria era um homem agradável com quem pudesse conviver pacificamente.
Ele deveria ser razoavelmente atraente, ter riqueza própria, porque ela não dividiria o que tinha, os bens que preservaria para seus filhos, e teria de concordar com seu projeto de ter filhos em intervalos regulares.
Dois. Um menino para herdar os bens do pai e uma menina para herdar Maguire's Ford.
Era sensato. Esperava gostar da Irlanda, mas, mesmo que não apreciasse o lugar, permaneceria ali.
Uma propriedade de três mil acres não era algo que se pudesse desprezar, e o presente que receberia da mãe por ocasião do casamento não a faria apenas mais rica, mas muito, muito rica.
E riqueza já havia compreendido, era preferível à sombria pobreza.
_ Está pensando em William Devers? _ perguntou a mãe dela, surgindo ao seu lado para observar a extensão de água que ainda as separava da Irlanda, cada vez mais próxima.
_ Não consigo guardar o nome dele _ Fortune riu.
_ William não é um nome muito familiar para mim mamãe.
_ Você tem um primo William _ Observou Jasmine.
_ O filho mais novo de minha tia Willow. Ele fez os votos sagrados na Igreja Anglicana. Não creio que o tenha conhecido meu bem.
Um rapaz muito agradável, se bem me lembro. Um pouco mais jovem do que eu _ Jasmine tinha a percepção estampada nos olhos. Fortune era a mais reservada de suas filhas. Nunca sabia em que ela estava pensando realmente.
_ Se não gosta desse rapaz, meu bem, não precisa se casar com ele _ disse. Era um aviso que já havia repetido mais de duas dezenas de vezes. Por Deus!