20 de ago. de 2013

Maio de 1.746
    Ofegante, Kayleigh despertou de seu pesadelo.
    Cobriu seu rosto molhado com as mãos. Mas só limparam parte da sujeira de suas faces. Ainda estava com o coração pulsando a toda velocidade e os ombros rígidos. E sentia como se estivesse se afogando por causa do ar pesado e úmido que a rodeava.
   Ficou um longo tempo na escuridão pensando em Morna. Seu fantasma parecia que a perseguia, e desejava com todas as suas forças que sua irmã estivesse ali com ela nas largas noites de Luisiana e na difícil e solitária vida que levava agora.
    Entretanto, sabia que não era possível. E seu único consolo era soltar um pequeno suspiro de decepção e fazer o que tinha feito mil vezes antes: deixar sua imaginação voar até uma vida passada mais feliz, a que teve na Escócia, e que ainda sentia falta. Mas até esse pequeno alivio parecia estar fora de alcance essa noite.
   Por muito que tentou, não pôde sentir o toque do cetim Francês se deslizando por sua pele. Nem o reconfortante calor do fogo de madeira de abedul em uma tarde gelada.
     Inclusive a imagem do castelo de Mhor sob os translúcidos flocos da primeira neve do inverno apareciam despesas em sua mente. Estava esquecendo os detalhes que davam sentido a sua vida anterior.
   Disse a si mesma que um ano longe do lar confundia as lembranças de qualquer um. No entanto, se desesperava ao pensar que possivelmente nunca mais voltasse a lembrar, fechou os olhos com força e se obrigou a pensar em todas as cores e pormenores do passado para não esquecer nem um sequer.
     _ Kestrel, teve aquele pesadelo outra vez
    A frase chegou do outro extremo do escuro local_ a voz não a chamou "kayleigh," o nome inglês de um pequeno falcão do Velho Mundo que sempre mantinha elevada a cabeça contra o vento.
    _ Não. _ Negou ela brandamente, tentando recordar os selos gravados no faqueiro de Mhor.
   _ Não, pequena, não me engana. _ A voz a reconfortou na escuridão da primeira hora da manhã enquanto um comprido e ossudo dedo cravava em si_ nega tudo que queira, mas desse maldito dia não se esquecerá.
    _ Já não me lembro de Mhor. Desapareceu. _ Sentou-se, abatida, pensando que as palavras eram mais verdadeiras do que imaginava.
    _ Vamos, onde está o espírito que me desafiou a matá-la naquele dia na colina de Mhor? Enfrentou a mim de tal forma que não pude acabar com a sua vida e nos vimos obrigados a fugir até aqui.
    _ Possivelmente tenha desaparecido, Bardolph. O calor de Luisiana o levou. _ Agitou o musgo sobre o qual dormia. _ Nem consigo respirar. Por que não há um pouco de brisa fresca?
     _ Não posso fazer nada a respeito disso, mas trouxe uma coisa que te agradará.
   Enquanto Bardolph o escuro acendia a luz ao lado da janela, viu que olhava para ela com olhos escuros afundados. Ela se levantou da cama feito de musgo verde cinzento e sacudiu seu andrajoso vestido. Imediatamente, um gatinho de pelagem escura se agarrou sonolento a sua saia, e logo se jogou em cima das baratas em busca do seu café da manhã.
    _ Qual é a sua surpresa, Bardie? madrugou muito cedo para me trazer isso ou ficou fora a noite toda?
    Arqueou uma sobrancelha e o olhou.
   Certamente Bardolph era uma criatura noturna. Com seu corpo magro e o comprido cabelo cinza, a escuridão era mais amável com ele do que podia ser o sol.
    Não era agradável de olhar e nem era provável que alguém o quisesse, e, entretanto, ela o queria.
    Tinha salvado a vida dela e durante o último ano tentado que sua existência fosse suportável.
     _ Olhe!


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